"A ausência de serviços públicos na periferia da cidade de São Paulo criou uma situação inusitada: nos bairros pobres, as ambulâncias são sinônimo do carro, na maioria das vezes velho, do vizinho do paciente. Ou seja: além de os hospitais estarem concentrados na região central da cidade, é difícil chegar até eles. A `frota informalÂ’ de ambulância da periferia é composta por Brasílias, Fuscas, Caravans e por outros modelos que já saíram de linha há pelo menos dez anos. Sem recursos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e mão-de-obra especializada, os vizinhos motorizados são a forma mais rápida de garantir ao doente pobre acesso ao hospital".
O leitor pode confundir-se, mas é fácil perceber que a notícia não é atual. Publicada em 15 de outubro de 2000 pela Folha de São Paulo, ela descreve a situação em alguns pontos da capital paulista três anos antes de o SAMU virar um programa federal de saúde pública. Notícias semelhantes eram comuns na época em diferentes cidades brasileiras. No entanto, até o final de 2011, a ausência de um serviço móvel de urgência não deve mais estampar jornais em nenhuma localidade do país. Essa é a aposta da CGUE (Coordenação Geral de Urgência e Emergência), do Ministério da Saúde. No próximo ano, universalizado e regionalizado, o SAMU deve chegar a todos os brasileiros, seja por terra, pelo mar ou pelo ar.
Trata-se de uma conquista daquele que é exaltado como o maior serviço pré-hospitalar do mundo, atualmente. Tendo o reconhecimento da população pelo número 192, o SAMU chega a um momento de avaliação, no qual, apesar dos êxitos e acertos, muito se debate sobre o seu futuro e a necessidade de ajustes em seu caminho.
O primeiro deles é que a simples presença do serviço não é garantia de um atendimento rápido e eficaz. "O futuro será crescer, ou seja, estar disponível à maior parcela da população que se consegue hoje e com mais duas exigências: atuar dentro de um tempo compatível com um sistema de emergência e levar às vítimas os procedimentos que ela necessita", afirma Carlos Alberto Guglielmi Eid, chefe do Departamento de Atendimento Pré-Hospitalar da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), no APH desde 1981, atuando também no SAMU São Paulo/SP.
Para Antonio Onimaru, membro do Conselho Consultivo e Fiscal da SBAIT (Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado), médico do GRAU (Grupo de Resgate e Atendimento a Urgências de São Paulo) e diretor-médico da BRvida APH, o momento exige a implantação da Política Nacional de Atenção às Urgências nos pilares definidos. Ele cita a necessidade iminente de organização e reestruturação da rede assistencial com referências de baixa, média e, principalmente, alta complexidade resolutivas.
Desenhar a rede de urgência e emergência, desde a parte pré-hospitalar móvel até os hospitais, é a prioridade do Ministério da Saúde, concomitante com a universalização do SAMU. "Não tem como chegar a 100% sem a participação de estados e municípios", salienta Clésio Mello de Castro, coordenador-geral da CGUE, para quem o ano de 2010 foi aquele em que as unidades federativas melhor enxergaram a rede de atenção às urgências.
Na prática, entretanto, coordenadores do serviço reclamam que o custeio do SAMU tem se tornado muito oneroso para os municípios, já que o aporte de recursos federal estaria subdimensionado e o estadual seria, em alguns casos, até inexistente. "O valor hoje repassado pelo Ministério, tanto para as centrais de regulação quanto para as ambulâncias, é muito insuficiente, piorando ainda a situação quando não existe o repasse estadual", lamenta Reinaldo Del Pozzo, coordenador do SAMU Diadema/SP e coordenador municipal de Urgência e Emergência.
As dificuldades financeiras impõem restrições em investimentos, prejudicando o acesso de alguns serviços a equipamentos e a novas tecnologias e revelando, ainda, carências em recursos humanos. Em Belém/PA, por exemplo, o SAMU tem equipe de médicos reduzida e, por vezes, fica sem o profissional na regulação em razão da necessidade de salvar uma vida nas ruas. Segundo Afonso Rocha, coordenador do serviço paraense e coordenador médico do resgate aéreo do estado, apostar na valorização profissional, seja por aspectos salariais ou por educação continuada, é uma forma de manter a motivação da equipe para que se tenha um SAMU eficaz. "No APH, trabalha quem gosta do serviço, passando, muitas vezes, por dificuldades, porém sem nunca desistir ou abandonar um paciente", resume.
O leitor pode confundir-se, mas é fácil perceber que a notícia não é atual. Publicada em 15 de outubro de 2000 pela Folha de São Paulo, ela descreve a situação em alguns pontos da capital paulista três anos antes de o SAMU virar um programa federal de saúde pública. Notícias semelhantes eram comuns na época em diferentes cidades brasileiras. No entanto, até o final de 2011, a ausência de um serviço móvel de urgência não deve mais estampar jornais em nenhuma localidade do país. Essa é a aposta da CGUE (Coordenação Geral de Urgência e Emergência), do Ministério da Saúde. No próximo ano, universalizado e regionalizado, o SAMU deve chegar a todos os brasileiros, seja por terra, pelo mar ou pelo ar.
Trata-se de uma conquista daquele que é exaltado como o maior serviço pré-hospitalar do mundo, atualmente. Tendo o reconhecimento da população pelo número 192, o SAMU chega a um momento de avaliação, no qual, apesar dos êxitos e acertos, muito se debate sobre o seu futuro e a necessidade de ajustes em seu caminho.
O primeiro deles é que a simples presença do serviço não é garantia de um atendimento rápido e eficaz. "O futuro será crescer, ou seja, estar disponível à maior parcela da população que se consegue hoje e com mais duas exigências: atuar dentro de um tempo compatível com um sistema de emergência e levar às vítimas os procedimentos que ela necessita", afirma Carlos Alberto Guglielmi Eid, chefe do Departamento de Atendimento Pré-Hospitalar da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), no APH desde 1981, atuando também no SAMU São Paulo/SP.
Para Antonio Onimaru, membro do Conselho Consultivo e Fiscal da SBAIT (Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado), médico do GRAU (Grupo de Resgate e Atendimento a Urgências de São Paulo) e diretor-médico da BRvida APH, o momento exige a implantação da Política Nacional de Atenção às Urgências nos pilares definidos. Ele cita a necessidade iminente de organização e reestruturação da rede assistencial com referências de baixa, média e, principalmente, alta complexidade resolutivas.
Desenhar a rede de urgência e emergência, desde a parte pré-hospitalar móvel até os hospitais, é a prioridade do Ministério da Saúde, concomitante com a universalização do SAMU. "Não tem como chegar a 100% sem a participação de estados e municípios", salienta Clésio Mello de Castro, coordenador-geral da CGUE, para quem o ano de 2010 foi aquele em que as unidades federativas melhor enxergaram a rede de atenção às urgências.
Na prática, entretanto, coordenadores do serviço reclamam que o custeio do SAMU tem se tornado muito oneroso para os municípios, já que o aporte de recursos federal estaria subdimensionado e o estadual seria, em alguns casos, até inexistente. "O valor hoje repassado pelo Ministério, tanto para as centrais de regulação quanto para as ambulâncias, é muito insuficiente, piorando ainda a situação quando não existe o repasse estadual", lamenta Reinaldo Del Pozzo, coordenador do SAMU Diadema/SP e coordenador municipal de Urgência e Emergência.
As dificuldades financeiras impõem restrições em investimentos, prejudicando o acesso de alguns serviços a equipamentos e a novas tecnologias e revelando, ainda, carências em recursos humanos. Em Belém/PA, por exemplo, o SAMU tem equipe de médicos reduzida e, por vezes, fica sem o profissional na regulação em razão da necessidade de salvar uma vida nas ruas. Segundo Afonso Rocha, coordenador do serviço paraense e coordenador médico do resgate aéreo do estado, apostar na valorização profissional, seja por aspectos salariais ou por educação continuada, é uma forma de manter a motivação da equipe para que se tenha um SAMU eficaz. "No APH, trabalha quem gosta do serviço, passando, muitas vezes, por dificuldades, porém sem nunca desistir ou abandonar um paciente", resume.
Reportagem de: Rafael Geyger
Fonte: Revista Emergência
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