quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Pesquisa analisa trabalho nos canaviais

Ilustração: Gabriel Renner


As condições de trabalho e os critérios de contratação nas plantações de cana-de-açúcar na região de Ribeirão Preto/SP são objetos de um estudo que vem sendo realizado na USP (Universidade de São Paulo). As motivações para realização do trabalho foram a crescente divulgação de mortes de trabalhadores rurais a partir de 2004 e o aumento da população de migrantes nas cidades com usinas sucroalcooleiras.

Motivação
O estudo faz parte da tese de mestrado em Psicologia de André Galiano e da pesquisa de iniciação científica do acadêmico de Psicologia Leandro Amorim Rosa, ambos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP. Muitos dos canavieiros entrevistados apresentaram como fatores motivacionais para a migração,  a ausência de trabalho na região de origem e o incentivo de outros trabalhadores que retornaram nas entressafras, trazendo certo recurso financeiro para ajudar no sustento dos familiares. Entretanto, Amorim identificou que além de ter despesas com transporte, moradia e alimentação, o canavieiro tem que se preocupar com o volume de produção e com a manutenção de sua saúde. O alto custo de vida no interior paulista faz com que os jovens cheguem a dividir moradia com 22 pessoas. "Alguns deles se mostraram satisfeitos pelo fato de a atividade ser uma das melhores possibilidades de ganho. Outros revelaram certa decepção, por virem para a cidade com muitas expectativas e, ao chegarem, perceberem que não é tudo tão fácil e lucrativo como prometido", revelou o aluno de Psicologia. Dos entrevistados, 70% apresentaram a intenção de retornar ao corte da cana nas próximas safras, dada a falta de trabalho em sua região.

Contratação
Galiano entrevistou 13 cortadores de cana migrantes do Maranhão, entre 16 e 24 anos, para compreender como foram atraídos para o trabalho e como a atividade repercute na saúde física e psíquica. "Os empregadores têm preferência pelos candidatos mais jovens, pois, para manter-se empregados, os cortadores precisam cortar 10 toneladas de cana por dia. Mas o esforço físico, a baixa qualidade da alimentação, combinados à ausência de familiares e amigos acaba degradando sua saúde", afirmou o mestrando.


Danos à saúde
O fator que mais influencia na superexploração desta força de trabalho é o pagamento por produção, segundo Vera Navarro, orientadora do estudo e professora do Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. Mesmo com cerca de 50% da colheita da cana mecanizada, o trabalhador ainda fica com a pior área: onde a máquina não entra. Nesses moldes de produção, a exaustão física se torna uma forma de garantir um melhor salário, mas, por outro lado, prejudica notavelmente a saúde. Muitos chegam a cortar 18 ou 20 toneladas ao dia; o que leva a um aumento considerável de seu salário, chegando a R$ 1.500. As entrevistas revelaram que o ritmo de trabalho gera queixas constantes de dor muscular, câimbra, dor de cabeça, insolação, acidentes com facão, e em casos mais graves, a ocorrência do que chamam de "birola", uma câimbra no corpo todo que faz o trabalhador ter contorções e contrações nos membros, causando dor intensa.

Ação sindical e fiscalização
A resolução desse crescente problema nos canaviais depende da melhoria e do cumprimento da legislação de proteção ao trabalhador, através de ações fiscalizadoras constantes e efetivas. "Primeiramente, é necessária a conscientização dos sindicatos, sociedade, indústrias e governo, de que esta atividade, tão importante para nossa economia, deve ser mais valorizada e não tratada como uma mão de obra reciclável", defendeu André Galiano.


Fonte: Redação Revista Proteção

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